Planície Dourada...



Alentejo não tem sombra
Senão a que vem do céu
Chega-te aqui meu amor
À aba do meu chapéu
A poesia mora aqui na ...viladeanteira...
ÁRVORES DO ALENTEJO
Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede;
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca - Sonetos, pág. 151, Livraria Bertrand, 1978.